Capítulo 02 - O carro dos sonhos
Quando finalmente pude sentir minhas mãos tremendo, talvez por ansiedade, foi que resolvi analisar melhor o ambiente onde estávamos.
Era uma sala pequena, com somente uma mesa no lado direito, um computador sujo e papéis espalhados, como se alguém tivesse saído literalmente no meio do trabalho.
— Algum de vocês conseguiu ver o que era exatamente? – Keito sussurrou enquanto se afastava lentamente da porta.
— Era um homem... Ao menos eu acho... ele era bem alto... – Naomi mais corajosa, colocou o ouvido próximo a porta, para tentar captar algum som do outro lado.
Por mais que quisesse, acho que naquele momento eu não tinha nada de útil a comentar. Resolvi analisar melhor o ambiente, a bagunça ao redor dele. Rodiei a mesa, analisando a tela desligada do computador e uma gaveta semi aberta, com uma chave do lado de fora. Quem quer que fosse, havia saído as pressas, ao ponto de esquecer de trancar a fechadura. Olhei para a parede do outro da mesa, e havia duas televisões grandes, uma do lado da outra.
Foram alguns segundos pensativo até entender. Aquela era a sala do vigia. A primeira sala do corredor, era onde o vigia daquele departamento ficava. Afastei a cadeira, e me sentei tentando ligar o computador, enquanto ouvia ele zumbir baixinho, chamando a atenção dos outros dois na sala.
— O que está fazendo? – Keito se levantou e foi até meu lado.
— Acho que, talvez aquelas TVs estejam conectadas as câmeras... – Sussurrei em resposta.
O computador rapidamente ligou, emitindo uma luz branca enquanto solicitava uma senha de acesso.
— Droga, eu sabia que não seria tão fácil... – Praguejei enquanto sentia vontade de socar a mesa.
— Deixa comigo, eu dou um jeito... vaza daí... – Sutilmente Keito balançou a cabeça, demonstrando sua educação ao me expulsar de minha cadeira.
Me levantei, indo para o lado da parede, enquanto ele puxava o teclado e a cadeira para si. Mais sutilmente ainda minha mão tocou as chaves, me fazendo lembrar da gaveta semi aberta.
Com um pouco de dificuldade rompi a fechadura, puxando a maçaneta pra trás e abrindo a mesma com um ronco vagaroso, enquanto uma série de divisões de plástico separa as chaves em bloquinhos. Era uma organização estranha, mas ao mesmo tempo bem caseira de se fazer. Eu havia gostado.
Retirei a primeira chave, revelando uma pequena folha presa a uma fita transparente no fundo, com a palavra "Administrativo I".
Analisei o conteúdo, enquanto começava a levantar algumas outras e verificar que todas haviam nomes abaixo. Foi então que notei, ali ficavam guardadas as chaves de todas as salas daquele departamento.
— Consegui! – Keito sussurrou suavemente, enquanto convencido iniciava o computador e tentava achar o programa e ligar as câmeras nas TVs.
Naomi no exato momento caminhou vagarosamente até nosso lado, e graças a Deus por ela ter feito isso. No momento que a última tecla foi tocada, ambas as TVs ligaram na imagem padrão, que era a entrada daquele corredor.
Um homem alto, quase 2 metros de altura. Portando fardas pretas e braços maiores que um extintor de incêndio. Estava parado fixamente a nossa porta, em silêncio. Era como se analisasse se os barulhos que ouvira ali dentro eram naturais ou não.
Meu corpo todo tremeu, de cima a baixo senti uma fraqueza enquanto as pernas ficavam gélidas. Keito teve a mesma reação, e o susto só não foi maior porque agilmente Naomi reagiu, segurando a cadeira com uma mão, para que não fizesse barulho. E com a outra delicadamente tapou a boca do namorado.
Por quase três minutos ficamos assim, congelados, parados e imóveis até na respiração que saia de forma tensa e vagarosa. Ele não se movia, um músculo sequer, ao ponto que se não soubéssemos que não havia nada ali antes, provavelmente seria uma estátua.
Conforme o tempo passava e o silêncio era predominante, o medo crescia a cada respirar que ouvíamos atrás daquela porta branca, feita de uma madeira que independente da qualidade, quebraria facilmente se aqueles braços enormes ousassem agir.
Não sabíamos o que fazer, se é que havia algo a ser feito naquela situação. Aos poucos um grunhido foi ouvido, como um animal rosnando irritado pela dúvida e fome de sua presa. A câmera de segurança o filmava pelas costas, imóvel como um poste. Mas não fazia diferença. Mesmo que pudéssemos ver apenas seus cabelos negros, e as mãos recobertas por luvas, sabíamos que não era humano, pelo menos não mais.
Talvez por sorte ou compaixão, o extintor que havia caído no fim do corredor parou de bombear a fumaça, dando uma última tosse com a eliminação dos resíduos. O monstro virou de lado, em direção às escadas. E quando ele deu o primeiro passo em direção ate aquela direção, seu busto ficou visível para nós, ou pelos menos o que restava dele. Estava quase aberto por completo, e certamente não tinha todos os órgãos. Não pingava sangue, mas estava todo vermelho.
As imagens ruins e cheias de pigmentações falhas não escondia, ele havia sido atacado por algo grande, ou no pior dos casos, por muitos ao mesmo tempo. Engoli em seco me perguntando se era aquela sala dele, e talvez por isso estava parado frente a ela. Senti ânsia, e queria vomitar com aquela cena.
Conforme os passos dele ecoavam para longe, nossas respirações iam voltando aos poucos, ganhando novamente um gosto doce. Meu corpo ainda tremia levemente, enquanto Keito estava com os olhos arregalados olhando para as TVs.
Meus olhos acompanharam, e o susto foi do mesmo nível. Ali virando o corredor, e ao lado da escada. Haviam muitos outros, talvez ainda piores que o primeiro, mesmo não tendo seu tamanho e força.
Até onde consegui contar, 20 ou 30. Roupas sujas de sangue, pés e mãos dilacerados, órgãos caídos, cabelos pelo chão e principalmente, grunhidos de dor misturados com fúria. O terror de ouvir aquilo era anormal, ao ponto do som fazer com que cada célula do meu corpo sentisse medo. Eram como almas seguindo ao inferno, sofrendo lentamente com a cicatriz que nunca viria de cada machucado. Até que ponto eles estavam vivos? E se estavam vivos, como conseguiam se mexer? Alguns sequer tinham ambas as pernas, mas estavam se arrastando no chão, em busca do que?
Naomi agiu rápido, cortando o som das câmeras e impedindo que aquelas vozes recheadas de sofrimento, continuassem a fritar minha mente.
— O-O que vamos fazer?? – Keito disse quase tendo que cuspir as palavras, e pela primeira vez não senti a menor vontade de fazer uma piada sobre.
— Eu não sei... eu... – Minhas costas foram até a parede, procurando um apoio, enquanto meus joelhos cediam e eu deslizava lentamente até o chão.
— Os dois, chega de idiotice. Precisamos de armas, foi por isso que viemos aqui. Coloquem essas malditas cabeças pra funcionar, ou eu mesmo jogarei vocês dois para essas coisas. – Naomi estava irritada, por mais que por seu olhar soubéssemos que ela também estava com medo.
Levei uma das mãos a testa, pensativo sobre aquela situação, sobre uma solução. Eu havia passado por tanta coisa para chegar ali, e agora estava facilmente cedendo ao medo. Certamente Annabeth odiaria me ver naquele estado. E meu tio, como ele estava? O que pensaria de mim? Eram as únicas coisas que vinham a minha cabeça no momento.
Foi quando minha outra mão foi a cabeça, que a chave balançou e bateu contra minha testa. O som chamou a atenção de Keito, que pela primeira vez também analisou a gaveta.
— O que é isso? – Ele puxou a mesma da minha mão, enquanto se direcionava a gaveta e observava os nomes escritos. – É isso... Talvez assim a gente consiga achar a sala... Edward, tem alguma sala com nome que poderia guardar armas??
Meus olhos foram até ele, enquanto mordia os lábios e me ajoelhando voltava a vasculhar a gaveta. Alguns nomes indo e vindo, salas e mais salas, até achar "Segurança III" em negrito em um dos papéis, e a indicação do terceiro andar.
— Aqui! Segurança 3... talvez... sei lá, pode ser aqui... – Levantei a chave mostrando para ambos.
Keito se virou ao computador, e vasculhando algumas pastas começou a mudar as câmeras, até achar a que possuía o mesmo nome. Se guiando pelos acessos chegou até uma sala diferente, com uma porta de aço, totalmente diferente de todas as outras. Estava no terceiro andar, a última do corredor.
Dando mais alguns cliques rápidos, a tela mudou, mostrando as filmagens dentro daquela sala. Pelo ângulo podíamos ver a parte de trás da porta, obviamente para mostrar de frente a cara de qualquer um que entrasse lá dentro. Ao lado das paredes, alguns ganchos com capas e mais ao fundo prateleiras, com caixas e mais caixas. Porém algo chamou a atenção quando ele mudou para a câmera mais interna, tirando um sorriso de nós três quando vimos algumas armas bem conhecidas.
— É isso... achamos...
Apesar da alegria, não teve comemoração entre nós. Ainda tínhamos que ir ao terceiro andar, e pior, do lado da escada a talvez 5 metros, havia uma quantidade absurda de zumbis, ou o que quer que fossem.
— Certo, sabemos onde temos que ir, temos a chave. Mas... como vamos pra lá? - Keito colocou o cotovelo na mesa e suspirou fundo com liberdade, se aproveitando que ao menos naquele momento poderia fazer um pouco de barulho. Sem perceber, ele voltou a câmera para o corredor do terceiro andar.
Enquanto pensávamos Naomi começou a vascular o restante da sala, indo até as caixas na estante. Sorridente ela parou, retirando um facão de quase 40 centimetros e enferrujado, de dentro de uma delas.
— Mas quem diabos trás algo assim pra um aeroporto? – Soltei em voz alta novamente, sem perceber.
Keito teve a mesma reação, enquanto esticava a mão para que Naomi entregasse o objeto.
— Acho que deveríamos ser grato a quem trouxe. Por mais que seja velho e acabado, podemos usar pra se defender ao menos até chegar a sala... – Naomi entregou o objeto, enquanto voltava a olhar as câmeras.
— Então, como querem fazer? E só pra deixar claro, eu vou ficar com essa faca. Vocês são dois bananas.
Encarei ela meio insultado. Era nítido que lutar fisicamente não era bem a minha praia, e muito menos a de Keito. Porém, ela não precisava escancarar isso num momento de fraqueza.
— Não temos muita opção. Ao menos até o fim do corredor iremos devagar, e quando chegarmos nas escadas é correr. Eu duvido que não irão nos ver. Edward vai na frente, pra abrir a porta. Eu vou ser o inútil no meio e você fica atrás pra matar o que estiver mais perto de nos atrapalhar. A porta parece resistente, deve aguentar algumas pancadas até a gente conseguir pegar as armas e lutar...
Não importava quão boa fosse a ideia dada naquele momento. Tudo era um grande "e se", e isso me assustava um pouco. Afoguei as costas na parede, bagunçando os cabelos brancos, enquanto refletia um pouco sobre aquela situação. Eu estava com medo, e odiava sentir medo.
Quando paro pra pensar sobre isso, uma grande dúvida sempre surge em minha mente. Eu não era a pessoa mais animada pra viver, e talvez em muitos casos sempre estava no automático. Mas sempre que pensava sobre a morte, ou a possibilidade de isso me ocorrer antes da hora, meu corpo sentia uma necessidade estranha de se mover, de correr, de lutar.
— Não temos escolha. Então é bom agir logo. – Me levantei, segurando com mais firmeza as chaves em minha mão. O galho ao qual eu segurava havia caído, e eu sequer tinha notado durante esse leve tempo na sala. Rodiei a mesa, e me agachado segurei novamente o mesmo. Guardando a chave no bolso os encarei.
— Eu odeio concordar com você, mas temos que ir logo. – Keito grunhiu, enquanto se levantava e se aproximava da porta.
— Então vamos. Edward vai na frente, Kei no meio e eu irei ficar na retaguarda. Sejam silenciosos, e quando estivermos nas escadas corram com tudo até a sala. – Naomi ordenou, por mais que já soubéssemos disso.
Corajosamente minha mão abriu a maçaneta, observando no primeiro passo pra fora que, sim, havia um pouco de sangue no chão onde aquele gigante monstruoso estava. Engoli em seco tentando não pensar sobre, e calmamente passo a passo me esgueirei na parede, caminhando silenciosamente pelo corredor que parecia não ter fim.
De uma parede a outra eram quase 4 metros de distância. Era um corredor longo, com portas dos dois lados, algumas de madeira, outras de vidro. Porém não dava de ver o conteúdo dentro. Todas as salas tinham uma única janela de vidro, que sempre estava com as cortinas devidamente fechadas, o que mostrava que todos ali queriam privacidade.
Meus pés estavam meio ansiosos, querendo correr logo que possível. E conforme o tempo passava, até nossos passos sorrateiros pareciam gritos na imensidão daquele silêncio.
Aos poucos os grunhidos dos zumbis foi sendo ouvido aos poucos, de modo que os sussurros de dor e desespero voltaram a vaguear na minha mente.
Por fim, chegamos a ponta do corredor, na pior hora. Ou talvez a melhor, já que um segundo atrasado poderia custar caro demais. Assim que estendi a mão pedindo pra eles pararem, decidi levar a cabeça a virada do corredor, pra analisar a distância que os zumbis estavam da escadaria. Péssima ideia ou ótima ideia?
A talvez 30 centímetros um deles caminhava lentamente até nós, dobrando o corredor de lado, para entrar no nosso e tampar a escadaria. O susto me fez agir sem pensar, e como modo de defesa dei a primeira cacetada com o galho em minha mão, exatamente na cabeça do monstro.
Não foi o suficiente, porque aquele galho fraco e seco se quebrou facilmente com a pancada, afastando apenas um pouco a cabeça do monstro pro lado. Meus olhos arregalaram sem reação, conforme ele voltava lentamente a cabeça pra mim. Um homem que pra minha surpresa, não parecia um humanoide, ou sequer um zumbi. Agora de frente com um deles, ele era um ser humano, porém totalmente desfigurado. Talvez 1,70m de altura, com um terninho preto bem sujo e rasgado.
Seu rosto estava rasgado, provavelmente por unhas afiadas. Não tinha muito sangue na face, e seus olhos estavam negros, com as pupilas tremendo inquietas dentro do globo ocular. Seus dentes amarelos possuíam sangue, o que me fez saber que ele havia devorado alguém. A única coisa diferente era a quantidade imensa de saliva saindo de seus lábios, babando levemente e pingando ao chão.
Meu corpo travou, de forma que minha respiração era o único movimento natural que consegui. Levantando as mãos o monstro urrou alto, como o grito de desespero e loucura de um animal. A atenção de todos se voltou pra nós, e ele agiu pronto pra pular em cima de mim.
Talvez eu estivesse morto naquele momento, se não fosse Naomi com sua incrível agilidade. Ela foi rápida, e antes que a criatura pudesse me tocar, o facão enferrujado cravou em sua cabeça, dividindo sua testa ao meio e fazendo sangue jorrar nas paredes e chão, um pouco sobre meu moletom também. Com um grunhido de dor ele parou instantaneamente de se mover, como se tivesse apenas sido desligado da tomada. As pernas cederam e ele caiu de joelhos no chão, com a arma cravada em seu crânio.
— CORRAM AGORA!! - Naomi ordenou observando que os outros começaram a vir em nossa direção.
Fui o primeiro a obedecer, enquanto Keito desengonçado me seguia pelas escadas acima. Naomi apoiou o pé no ombro da criatura e chutando ele pra trás, conseguiu retirar o facão de sua cabeça. De imediato, ela também tomou rumo na escada.
Meus passos foram incrivelmente fortes e confiantes. Eu só conseguia pensar no medo de tropeçar nas escadas e cair de cara em um degrau. Porém talvez por habilidade ou instinto de sobrevivência isso não ocorreu. Mesmo com ansiedade meu corpo agiu corretamente, pisando firme em cada degrau, subindo com o dobro de força e velocidade que eu normalmente conseguiria. Foram talvez 10 segundos até subir todos os degraus e chegar até o terceiro andar.
A situação ficou ainda mais inacreditável quando ao olhar pra frente, a 4 metros no corredor do terceiro andar, estava uma mulher zumbi, devorando um braço ensanguentado. Como ela havia subido ali? Como não tínhamos visto isso?
Assim que meus passos ecoaram no piso, ela me encarou, soltando o pedaço de carne no chão e correndo em minha direção. Engoli em seco fazendo a única coisa que pude, e pra desviar usei toda minha força e joguei meu corpo pro lado esquerdo, indo com tudo na parede e sentindo meu ombro doer pra caralho. Mas foi o suficiente pra que eu conseguisse escapar de suas mãos.
Atrás de mim estava Keito, que freiando os pés parou para não ir de cara com a criatura. Ela me esqueceu na hora, encarando o japonês e indo até ele com tudo.
— ABAIXA!! - Naomi gritou enquanto segurava o cabo da arma branca com as duas mãos.
Keito não conseguiu abaixar, mas assim como eu jogou o corpo pra parede contrária a mim, abrindo espaço para Naomi agir.
Como uma jogadora de Baisebol ela agiu, fazendo o mesmo movimento que um rebatedor. Porém não existia bola, apenas uma cabeça monstruosa a frente. A ponta do facão foi meio torta, atingindo o pescoço da criatura, rasgando a carne com brutalidade e dificuldade.
O corpo do monstro pendeu pra frente, indo ao chão com a arma cravada em seu pescoço. Ela não morreu, mas começou a gofar sangue enquanto tremendo tentava se levantar.
Sem piedade a bota de Naomi atingiu a cabeça da criatura, várias vezes, até que ela parasse de mover os braços tentando agarrar a garota.
Os grunhidos aumentaram, os zumbis estavam subindo as escadas.
— PRA SALA, AGORA! – Engolindo em seco me levantei, pegando as chaves no bolso e correndo até o fim do corredor sobre as ordens dela.
Naomi ajudou Keito a se levantar, o carregando até junto de nós. Minhas mãos tremiam, eu estava ansioso sem entender direito o porquê. Era difícil colocar a chave no trinco, e após alguns murmúrios apressados da dupla consegui, e girando a chave abri com tudo a porta de aço.
Os dois entraram rapidamente, e enquanto fechava a porta vi os demais monstros chegando, poucos segundos depois de eu fechar a porta e tranca-la por dentro.
Batidas fortes começaram na porta, uma, duas, cinco... Havia um grupo enorme ali atrás, ansioso para nos devorar com tudo.
Meus pés se moveram pra trás, me distanciando da porta enquanto olhava pra mesma, me perguntando se ela iria aguentar.
— KEI! KEI! - Os gritos desesperados de Naomi me acordaram do transe e do medo, me fazendo virar para a dupla que estava no chão.
Keito estava deitado nos braços de Naomi, enquanto sorria de forma convencida e dolorosa. Desci mais os olhos, até chegar a uma marca vermelha que começava a se espalhar por sua camiseta branca. Era sangue.
Girei os olhos ao redor procurando o motivo, afinal ele não havia sido mordido até onde me lembrava. E nas mãos ele portava um objeto pontudo. Um pedaço de vidro parecido com uma faca, com uns 10 centímetros talvez.
— Isso... Isso dói... – Ele sorriu em meio aos gemidos de ardência.
— O que... como diabos isso ocorreu?? – Me ajoelhei chegando perto, levantando a blusa dele e observando o corte que cospia sangue aos poucos. Não era grande em largura, mas parecia profundo ao passo que mais sangue saia. – Droga Droga...
Me levantei, correndo pela sala e abrindo caixas de ferro pequenas, procurando algo para estancar o sangramento. Comecei a derrubar objetos das prateleiras, já não me importava mais com barulhos ou calma. A poucos metros uma gaveta, com o símbolo de um "+" em vermelho. Aquilo era universal, ou pelo menos torcia para que fosse. Abri as gavetas sem modéstia, jogando os conteúdos pra fora até achar um pano branco. Dobrei o mesmo de forma errada, enquanto levava até próximo de Keito e usando toda minha força, pressionava no machucado. Kei gemeu de dor, mas se segurou a não reclamar de nada.
— Droga... O que vamos fazer... – Disse para mim mesmo pensativo. Meus olhos foram até os de Naomi e agora a garota forte e ousada, parecia uma menina desesperada. Ela chorava sem parar, sem reação.
Keito esticava a mão livre até a bochecha dela, enxugando suas lágrimas antes que caíssem do rosto. Ele sorria, parecia pleno e convicto.
Minha mente paralisou naquele momento. As lembranças vieram naquele instante. Aquela cena era recorrente em minha mente. O passado veio de uma vez, quando fui preso, quando fui torturado. E eu entendia Naomi, pois no passado eu era ela naquela situação. E em meus braços, estava Annabeth, morrendo lentamente.
Minhas mãos começaram a tremer, meus olhos a lacrimejar. Eu não conseguia impedir isso.
Um sorriso se fez no ar, orgulhoso e convencido, com leves requintes de dor e agonia.
— Quem diria, Edward Porttman chorando por mim... Eu nunca imaginaria isso nem em meus melhores sonhos... – Kei estava meio gélido, com os olhos se forçando a ficarem abertos.
— Cale a maldita boca, guarde suas energias. – Grunhi pressionando ainda mais o machucado, conforme o pano ficava vermelho.
— Não enche o saco... Deveria se preocupar consigo mesmo. Por que agora voce não tem mais tanta chance de sobreviver... hehe... – Keito se forçou a gargalhar um pouco.
"Se você sobreviver, eu tenho certeza que também sobrevivo"
Por mais que eu odiasse que ele usasse minhas palavras contra mim, pela primeira vez senti raiva e remorso de mim mesmo por dizer algo a ele. Eu não desejava que ele morresse.
— Tem uma janela, no final da sala. Fuja daqui. Todos os monstros devem estar ali na frente... – Ele apontou a porta com um movimento de rosto, indicando os barulhos altos. A porta começava a tomar a forma das pancadas, o que mostrava que os monstros não haviam esquecido de nós. – Faça como fizemos no avião. Use as capas e vá até o segundo andar.
Ele ordenou sem pensar duas vezes. Agora era como se ele fosse o chefe, e eu o empregado. Me recusei a ouvir, e apenas continuei pressionando o machucado.
Naomi que até então apenas chorava se mexeu, pegando o pano de minhas mãos e fazendo ela mesmo aquele processo.
— Não... Eu não vou sem vocês... – A resposta parecia tão natural.
Eu sabia que Naomi não iria abandonar Keito. Ele era seu grande amor, e eu sequer precisava perguntar isso para saber. Bastava apenas olhar em seus olhos. Ela parecia calma agora, decidida a morrer junto com ele. Não iria embora. E eu decidi que também não iria.
— Eu-
— Você tem que ir embora. Eu e Kei somos um só. Uma alma em dois corpos. Você pode ser o chefe dele, mas não tem nada haver com essa situação. Não é justo que morra aqui. – Ela disse com uma voz fria, e os olhos vazios. Seu rosto sequer se movia, e eles olhavam um pro outro, sem mesmo piscar.
— Nã-
— Pare de ser teimoso Edward. O que Annabeth diria sobre isso? — Kei me encarou, com um olhar sério.
Minha mente voou. Por alguns segundos me senti em um campo amarelado, com grama morta. O vento era quente, e eu estava sozinho. A voz de Annabeth sussurrou em meus ouvidos. Como Keito sabia sobre ela? Eu havia contado apenas para meu tio, e ele nunca iria falar sobre isso com mais ninguém.
— Nós te investigamos. É simples. Você não deve morrer aqui, então vá embora de uma vez. – Naomi disse, puxando Kei para si mesma, o colocando sobre suas pernas, pressionando o machucado com uma mão e acariciando seus cabelos com a outra.
— Por que? Por que? Podemos tentar fugir juntos... – Era meu único sinal de esperança se apagando.
— Eu não consigo levantar, e provavelmente só vou morrer mais rápido tentando. Foi bom estudar com você, trabalhar juntos. Por mais que a gente se odeie, sei que iríamos fazer as coisas direito, talvez até melhor que nossos pais... Obrigado, Edward... – Ele sorriu, seus olhos quase fechados. Sua voz estava fraca, como se ele estivesse perdendo às forças.
— Por favor, deixe que tenhamos nosso último momento a sós... – Naomi abaixou os ombros, levando os lábios até a testa do moreno caído.
Não consegui dizer nada ali. De lábios fechados me levantei, caminhei até a prateleira e peguei um cinto com coldres dos dois lados. Havia mais um que se encaixava na coxa, e resolvi colocar também.
Dando um passo pro lado observei algumas armas, pegando duas Pistolas. Analisei a mesma um pouco, até reconhecer o modelo que estava em minhas mãos. Guardei ambas nos devidos coldres, enquanto pegava uma terceira e a juntava no coldre preso ao lado da coxa.
Ainda faltava munição, então abrindo algumas caixas analisei as balas ainda dentro dos cartuchos, com 17 projéteis cada. Não me importei com a quantidade, e fui pegando todos que podia até encher os estoques do estojo. Estava um pouco mais pesado, talvez atrapalhasse minha mobilidade se eu fosse leigo no assunto, porém após quatro anos treinando isso, eu me considerava bom o bastante depois de tudo que fiz.
Retirei meu moletom branco ensanguentado, colocando ele dentro de uma caixa fechada. Agora estava eu, um garoto de 1,74m de altura, com roupas de moletom brancas, um cinto na cintura com coldres de ambos os lados, e outro na coxa.
Me perguntei se ainda faltava algo, o que logo decidi que não. Talvez fosse cômico me ver assim tão armado, se já não houvesse ocorrido anteriormente.
Meus olhos azuis celeste estavam vazios, e não havia brilho o suficiente pra tentar comentar nada. Enquanto pegava os casacos negros que havia ali, e os amarrava com toda a força um no outro. Prendendo o mesmo em um gancho junto a uma prateleira, joguei o restante da "corda de casacos" pela janela, e observei que ia até próximo do primeiro andar.
Minha mente estava vazia, no automático, como um modo de defesa onde eu não precisava julgar nada, e nem me martirizar por isso.
Apoiei meus pés sobre a janela, sentado sobre a mesma pronto para descer para o andar inferior. Meu corpo parou, e em silêncio olhei para o lado, o suficiente para ver a silhueta dos dois no início da sala, deitados juntos, enrolados como um só.
Eu estava assim quatro anos atrás, junto a ela. Agora, eu podia ver o meu reflexo em Naomi e Keito. Ambos combinavam, eram talvez ainda mais perfeitos que eu e Annabeth.
Era irônico imaginar que ambos morreriam praticamente juntos. Pensei em dizer algo, talvez uma última frase que ecoasse como boa lembrança. Porém de forma covarde, disse "Tchau".
Eu não sabia se aquela despedida havia sido apenas em minha mente, ou se minha voz havia chegado até eles. Porém não pensei em mais nada depois. Só me segurei firme naquela corda improvisada, e desci deixando agora todo o meu passado lá em cima.
Conforme descia, notei que eu estava mais perto do chão, talvez dois ou três metros do estacionamento. A corda havia ficado maior do que pensava, e talvez por estar no automático sequer havia percebido o tempo ou o tamanho.
Por unanimidade decidi ir direto até o chão, e quando cheguei ao último pedaço de corda, apoiando meus pés na parede saltei sobre um carro que estava próximo. Era melhor e mais perto do que o chão, e mesmo assim doeu. Flexionei o corpo para amortecer a queda e sobre o capô estatelei as costas. Grunhi de dor, enquanto me levantava calmamente e observava ao redor.
Haviam muitos carros, alguns quebrados, outros inteiros. Fazia jus a um aeroporto o tamanho daquele estacionamento.
Não fazia sentido ir embora andando, e a melhor opção era pegar um automóvel pra mim. De imediato veio na mente a lembrança da sala do vigia, e a chave do seu carro que estava junto a gaveta. Estiquei as costas, tentando esquecer um pouco a dor, e com pensamentos supérfluos caminhei novamente até a porta de entrada do aeroporto.
"O que estou fazendo? Por que ainda estou vivo?"
Minha mente vagueava entre as manchas de sangue no piso, até ouvir um gemido de dor se aproximando de mim. Era um zumbi, correndo a talvez 15 metros de mim. Possuía o corpo de um homem cinquentão, com shorts coloridos e uma camiseta de futebol. Fiquei parado, talvez desejando ser devorado.
Podia ver seus olhos fixos em mim, correndo e babando por meus braços finos. Meus cabelos brancos sujos com o calor, desejando um banho, enquanto minha alma como uma corrente esperava ser liberta pro além.
Eu queria desistir, eu queria ser só um alvo fácil, que não precisava pensar muito. Me virei de frente pra ele, e talvez até abrisse os braços para recebe-lo, para que pulasse em minha jugular e me apagasse da existência.
Quando estava perto de mim, quando estava próximo de me alcançar e pular sobre meu corpo frágil, minha mão se moveu com destreza. Meus dedos agiram e destravaram a pistola ao mesmo tempo que retirava ela do coldre, levando a ponta do cano pra cabeça da criatura, soltando um único disparo no meio da testa.
A queima roupa a bala saiu, estourando os miolos do zumbi que caiu morto ao chão, arrastando o sangue pelo piso ao meu lado por quase dois metros.
Meus olhos foram vagarosamente até a arma, observando meus dedos no gatilho e a fumaça saindo da pistola recém aquecida.
"Viva Ed... Viva por mim... E veja o mundo que eu não pude..."
As últimas palavras de Annabeth ressoaram na minha mente, apagando toda dor e sofrimento que ocupava espaço.
Sobre meus pés guardei a arma novamente no coldre. Enxuguei as lágrimas com as costas das mãos, e fiz com que meus olhos azuis ganhassem o mínimo brilho, para lutar e viver.
Encaixei o cartucho de música adequadamente no headphone. Eu sempre andava com um que tocava minhas músicas favoritas plugado ao fone, para tocar so quando eu conectasse direito.
Liguei o aparelho no botão ao lado e ouvi vagarosamente a primeira música da playlist soar. O som do primeiro instrumento se fez, seguido de uma guitarra estrondosa.
"Yoru Wa Nemureru Kai? - Flumpool"
Aumentei o volume pouco a pouco, começando a caminhar em direção às escadas para o segundo andar do aeroporto. A voz do cantor se fez presente, me fazendo abrir bem os olhos. Eu adorava Rock Japonês, algo que eu comecei a ouvir conforme estudava sobre o idioma.
Minha mão foi ao coldre novamente, retirando a arma e destravando ela. Confiante dei um passo após o outro, sem me importar de meus pés ecoarem no ambiente vazio. Quando cheguei ao segundo andar, dois monstros no corredor, que se dirigiram a mim assim que abri a porta.
Não exitei, apontei o primeiro disparo na cabeça de um deles, pressionando o gatilho e fazendo ele cair ao chão morto, sem reação. O segundo estava próximo, correndo de forma desgovernada e descontrolada. Não dava pra atingir a cabeça assim, e jogando corpo pro lado dei o primeiro disparo no joelho, fazendo ele tombar pro lado e se chocar com a parede.
Caminhei até próximo da fera, e sem me agachar para seu rosto pouco belo, dei o segundo disparo fatal na cabeça.
Agora estava de volta a sala, abrindo a gaveta e puxando a chave do carro. A encaixei no bolso mais fundo, para que não caísse. E antes de sair da sala observei as câmeras, paradas no corredor do terceiro andar. Eu não sabia mudar de canal e ver como eles estavam, mas provavelmente um deles já havia partido deste mundo.
Não pensei bem, mas não gostava da ideia deles serem devorados depois de mortos. E não tive a menor ideia de ir contra esse princípio. Engatilhando a pistola caminhei até a escada de acesso ao terceiro andar.
Subi os degraus um a um, confiante, irritado, me controlando. Até chegar até o ápice máximo dali, e ver na última porta um grupo de talvez 15 monstros se debatendo.
Não dava pra todos caberem direito ali, e talvez por isso ainda não haviam conseguido derrubar a porta. Olhei para o chão ao lado, vendo vários cacos de vidro no canto, estava o motivo explicito de Kei ter sido atingido. E talvez se eu tivesse pulado pro lado contrário, eu estaria morto e ele vivo agora. Por algum motivo senti alívio.
Apontei o cano da arma pra frente, e dei o primeiro disparo, atingindo o ombro de um deles. O som do tiro chamou a atenção do grupo, que em dor e agonia virou até mim. Eu não podia os ouvir, a música estava alta demais pra isso.
Sorri com o fato, parecia estar em paz no meio do desespero. Dei mais dois disparos, acertando uma coxa e tórax de forma aleatória. Até notar que eles vinham todos em direção a mim, esquecendo a porta e me tornando a única presa.
Meu corpo moveu pra trás, e eu desci as escadas rapidamente em direção ao segundo andar novamente, pulando alguns degraus. No fim do corredor, na porta de saída para a praça de alimentação do segundo andar, estavam outras duas criaturas, próximas ao corpo dos que havia matado minutos antes. A música mudou, me tirando um sorriso convencido do rosto.
"Shunkan Sentimental - SCANDAL"
Corri rápido em direção a eles, não podia esperar parado pra atirar. Apontei a arma pro primeiro, e pela proximidade consegui acerta exatamente em seu olho, o fazendo gritar de dor e bater contra o chão para morrer lentamente.
A frente o segundo veio com pressa, esticando as mãos e pulando em direção a mim como um leão sobre a presa. Observei com surpresa ele sair totalmente do chão, e agi rápido amolecendo as pernas e me jogando no piso, deslizando próximo ao solo enquanto a criatura passava por cima de mim, virando o rosto em minha direção, provavelmente tambem surpreso com minha agilidade.
Apoiei uma mão no chão e e usei a sola da bota pra parar o deslize, virei pro lado e dei o disparo que atingiu as costas da criatura. O segundo saiu logo em seguida, no pescoço, fazendo ele urrar de dor enquanto tentava se levantar.
Nas escadas os demais chegavam, ao passo que me levantei e corri para fora do corredor, em direção às escadas de acesso ao primeiro andar. Eram muitos, e eu não queria lutar com tantos assim, se é que podemos dizer que eu estava lutando.
Olhei ao redor, procurando mais inimigos no campo de visão, não queria ser surpreendido enquanto uma horda de monstros urrava correndo atrás de mim. Agora, certamente eram mais de 20.
Retirei os fones, dava pra ouvir a música mesmo com ele preso ao pescoco. Ja com a mão livre no bolso, retirei a chave torcendo para não deixa-la cair, e apertando o alarme várias vezes analisei os retrovisores dos carros próximos. Até ouvir o alarme de um celta azul no final do estacionamento, junto a parede.
— É sério isso? Os seguranças daqui ganham quanto????
Resmunguei enquanto apontava a arma pra alguns carros inteiros, e dava alguns disparos sobre os vidros, até esvaziar o cartucho. Os alarmes dos carros dispararam na hora.
O barulho fez as criaturas olharem ao redor, procurando mais pessoas pelo estacionamento. Alguns até mesmo correndo em direção a esses alarmes. Aparentemente eu estava certo em supor que eles seguiam mais a audição do que os olhos.
Meus pés pareciam queimar, eu não lembrava da última vez que havia sido tão atlético assim.
Cheguei ao carro, suado e ofegante, enquanto destrava o mesmo com as chaves e entrando encaixava o mesmo no volante. O carro bufou com força, tentando ligar com dificuldade.
— Mas nem fodendo... LIGA CARALHO!! - Gritei impaciente, e aparentemente a ordem fez efeito, ao ponto do mesmo roncar e os faróis ligarem.
Pisei na embreagem com força, dando ré e atropelando um dos zumbis que estava mais próximo. O acelerador veio logo em seguida, enquanto eu virava o volante e seguia em velocidade máxima até a saída do aeroporto.
Pelo retrovisor pude observar os zumbis me perseguindo saída a fora, tentando me alcançar sem desistência. Apesar de sua velocidade, não conseguiam se comparar a potência daquele celta azul.
Sorri aliviado, conforme a silhueta das criaturas ia sumindo no horizonte. A estrada agora estava vazia, apenas árvores dos dois lados da pista.
— Caralho... – Gargalhei alto, respirando fundo e tomando fôlego com as janelas abertas. – CHUPA ESSA SEUS MALDITOS!!
Gritei em emoção, seguindo a estrada sem saber muito bem onde estava. Havia apenas uma pista reta, que provavelmente levava pra cidade. Não sabia o que iria encontrar lá, mas meu objetivo estava claro, achar um mapa. Eu precisava ir até o hotel, estaria seguro lá e poderia me comunicar com meu tio de alguma forma. Isso é, ele estava bem? Aquilo era realmente só ali?
Foi quando notei, eu não sabia de nada. Estava perdido, estava sozinho, estava novamente sozinho.
— Que droga... – Suspirei meio desapontado, enquanto olhava o carro. Havia uma entrada de som adulterada, que o dono provavelmente havia colocado ali a força. Parecia ser de outro modelo de carro, adaptada para usar naquele celta azul. – Você estava certo Kei, os brasileiros são realmente ousados...
Retirei o cartucho dos fones, e encaixei na fonte de som do carro. Com lentidão uma Led azul ligou, e apertando alguns botões consegui ver a lista de músicas.
— Hm, acho que essa combina...
Respondi pra mim mesmo, colocando a música pra tocar. Afoguei as costas no banco, estiquei os braços até o volante e assim que a primeira melodia soou respirei fundo, observando a estrada que parecia não ter fim, aquilo era apenas o início...
"Creep — Radiohead"