Capítulo 06 - Bastardo de elite
Já se sentiram nostálgicos o suficiente pra sair da realidade? Enquanto entrava na espaçonave me sentia assim. Naquele momento normalmente eu ficaria empolgado, sorridente e super animado. Até porque, caramba eu estava em uma nave! Conseguem entender o quão incrível isso é?
Independente de ser alienígena ou não, eu talvez me sentiria em um filme de Guerra nas Estrelas, ou quem sabe um membro dos Guardiões da Galáxia. Mas não, não conseguia me sentir ansioso por ver e conhecer mais.
A nave? Era simples, pintada em um negro com tons brilhantes, e com uma base dos dois lados que mais lembrava um banco de futebol, feito para várias pessoas se sentarem juntas. E adivinhem, foi o que todos que estavam à bordo fizeram, calmamente e sem muita curiosidade.
Ayato mais ousado se manteve em pé junto a Valentina, caminhando chegaram próximos ao nosso grade piloto alienígena, que se exibia frente um volante pequeno o suficiente pra ser manobrado apenas por uma das mãos.
— Qual o seu nome? — Ayato disse arisco, enquanto se sentava na poltrona ao lado do piloto.
— Edmus, é tudo que precisa saber sobre mim por enquanto. — O ríspido homem não sorriu ou demonstrou gentileza. Era meio óbvio o fato que estava totalmente interessado apenas em mim, enquanto todo o resto era apenas a bagagem.
— Para onde iremos, Edmus? — Respondi em contrapartida, não gostava de seu tom de voz arrogante.
— Sinceramente? Eu não sei direito Musskyn. Não podemos sair do planeta agora, e não temos muitos lugares para nos esconder.
Edmus que se assemelhava a um elfo analisava a paisagem da cidade através do vidro fosco, que mais parecia a tela de um computador. A nave emitia apenas um foco de luz azul em cima, como uma lâmpada ao centro da sala. Qualquer outra iluminação vinha de fios espalhados pela arquitetura da nave, que as vezes chegavam a lembrar raízes de árvores.
— Veio até mim todo apressado, e não sabe onde iremos? — Respondi com certo tom de ironia, ainda pensando sobre aquela situação.
Edmus sorriu de canto ao ponto de poder ouvir sua voz. Ele analisava calmamente os controles enquanto a pulseira em seu pulso brilhava em tons azuis.
— Não existem muitos lugares seguros pra nós no céu. Meu objetivo era apenas te tirar de lá, já que iriam te capturar se eu não o fizesse.
— E quem está atrás de mim? Porque querem me pegar?
— É uma longa história garoto. Deveria sentar e se acalmar um pouco. — Edmus claramente não estava se importando com o fato de não nos passar informações.
— Você disse saber se tem cura para esses zumbis. Estamos na sua nave, não irá nos contar nada? — Tina claramente estava estressada com a forma vaga que Edmus agia.
— Eu não prometi que contaria...
— Chega de seus joguinhos imbecis seu merda. Eu não tenho saco e nem paciência pra essa droga de mistério que você acha que está fazendo. Então abre a porra da boca e conte o que quisermos saber, ou não garanto que ficarei aqui por muito mais tempo — Respondi de forma irritada, apesar de ser uma grande ameaça vazia. Já que bem, eu não sabia como sair dali.
Um silêncio se fez na nave, ao ponto de todos ali dentro me encararem surpresos.
— Edward, seus olhos... — Tina respondeu enquanto se levantava e caminhava até mim.
Aparentemente meus olhos brilhavam novamente, em um tom azul semelhante ao néon. Edmus notou isso, e rapidamente sentimos a nave perder velocidade até notar que ela havia parado no ar.
A cadeira do comandante virou, enquanto ele apontava a mão para um dos bancos ao lado da nave. Queria que eu sentasse para ouvi-lo.
— Muito bem Musskyn, irei contar tudo o que quiser saber. Por onde devo começar?
Apesar da aceitação repentina, Edmus não parecia agir estranho. Ele simplesmente havia optado aceitar meu pedido, apesar de não entender ainda o porquê.
— Nos conte sobre os zumbis, e se tem cura. — Fui direto ao ponto, enquanto observava Tina e Ayato sorrirem felizes.
Eu podia notar em seus olhos que os irmãos ansiavam mais do que tudo saber se existia cura. Edmus respirou fundo, encarou um a um ali, como se estivesse selecionando as palavras de forma clara numa linha do tempo.
— Os tais zumbis que vocês chamam, são uma forma de vida parasita. Eles possuem inteligência própria, e após infectarem um indivíduo tomam seu cérebro, até controlarem todo o corpo ao ponto de serem o indivíduo. Basicamente, imagine que sua mente e seu corpo serão roubados por outra pessoa.
— Mas se são inteligentes assim, porque são tão brutais? Qual a cura? — Ayato indagou flexionando o corpo para Edmus.
— O meu povo já passou por centenas de eras, e várias formas de extinção diferentes. Desastres naturais, desastres espaciais, doenças, guerras, acidentes... O planeta de vocês, é extremamente único na galáxia. Não por ser único, mas sim pelo estado temporal atual dele. É jovem, cheio de vida, cheio de matéria prima, entre eles um dos mais essenciais no universo, árvores.
— Árvores? — Lucas interrompeu confuso.
Admito que se ele não o fizesse, provavelmente eu teria feito.
— É por causa do oxigênio? — Alice palpitou, encarando Edmus com um olhar curioso.
— Pelo que parece nem todos são burros... — Ele sorriu, causando um desagrado geral.
— Continue Edmus. — Ayato respondeu.
— Exatamente. Produzir oxigênio artificial é extremamente difícil e caro, além do fato que não possui o mesmo efeito que o natural que as árvores e algas produzem. Quando nosso planeta chegou a um nível crítico de desmatamento, percebemos que ter criado oxigênio artificial era uma faca de dois gumes. Se por um lado podíamos produzir em massa e explorar lugares inacreditáveis para a mente humana, por outro perdíamos algo inacreditável... Imunidade. A tecnologia de vocês ainda não é capaz de perceber isso mas, o oxigênio é um componente essencial pra tornar o corpo adaptável a diversas doenças existentes nos lugares mais inóspitos. Produzir ar respirável artificialmente não dá a mesma energia ao corpo, e muito menos os permite ter essa imunidade natural e integral durante a vida. Seu corpo não tem a mesma disposição, e muito menos a mesma resistência.
— Você falou tanto, e no fim não nos disse nada ainda. — Brenda o cortou de leve, um tanto confusa sobre a ligação dos fatos.
— A próxima vez que um de vocês repetir isso, eu os jogarei da nave ao solo. — Edmus cerrou os olhos, encarando Brenda de modo a não sabermos se era sério ou pura ironia.
— Desculpa aí... — Brenda engoliu em seco enquanto recuava o corpo.
— Depois de descobrir nosso erro, tentamos iniciar um processo de reconstrução ambiental. Mas era difícil, plantar árvores e as permitir crescer naturalmente demora. Então criamos a coisa mais impressionante que o universo já proporcionou. A vida.
— Vocês conseguiram criar vida????????? — Alice interferiu empolgada. Seus olhos brilhavam de espanto. Mesmo sem saber sobre, até pra mim parecia algo incrível.
Edmus fechou novamente a cara, apesar de que não parecia irritado visto que de alguma forma, Alice o atrapalhar era menos grave por ela não ser burra.
— Sim. Mas, não dá mesma forma. A vida que criamos necessitava de um componente físico. Na verdade, é mais fácil dizer que criamos um parasita que podia reanimar um corpo morto. Mas não fizemos isso pra testar em humanos, e sim em árvores. Foi o que fizemos. Em alguns anos, conseguimos reestabelecer florestas inteiras. Foi incrível, era o maior avanço científico da galáxia. As árvores produziam oxigênio 95% semelhante ao natural, de modo a ser desnecessário usar o artificial no planeta. Mas nem tudo foi perfeito como deveria.
Um silêncio se fez. Ficamos todos a nós olhar enquanto Edmus encarava uma a um.
— Então? O que rolou? — Perguntei após notar que ninguém teria coragem.
— Pensei que um de vocês iria atrapalhar, desculpe. — Edmus disse com uma voz levemente decepcionada.
Por alguns instantes encarei ele confuso, queria ou não ser interrompido?
— Certo, então continue. — Ayato deu continuidade.
— Quando vimos o sucesso que havia sido a reanimação de árvores, pensamos; por que não em vida animal? Foi então que os preparativos começaram. Primeiro em animais pequenos, depois em médios e grandes. Alguns voltavam normalmente, enquanto outros morriam no processo. Não chegamos a entender bem o porquê. Os que voltavam sempre tinham um tom agressivo no início, o que entendemos como um componente de memória. Como estar embriagado ou possuído. Pensamos que podia ser um sintoma comum, visto que a mente estava a muito desligada. O fato de que voltavam a ser calmos após alguns dias nos deixava certos que estava dando bom resultado. Mas era apenas um prelúdio. Ficamos tão chocados e felizes com os testes, que esquecemos de analisar o efeito a longo prazo. Enquanto começamos a nos preparar para testar em humanos o componente químico que chamamos de "VIDA", as árvores começaram a morrer mais rapidamente, e seus frutos estragavam mais rápido também. A expectativa de vida de uma árvore estava caindo pela metade. E então, o pior ocorreu.
— Como assim? — Alice indagou ansiosa.
— O problema do componente VIDA, é que ele como qualquer coisa criada pelo ser humano, é artificial. Em árvores o efeito era longo porque são seres vivos sem inteligência. Não era possível o parasita tomar seu corpo completamente, então assim como o indivíduo ele morria com o tempo. Era isso que estava ocorrendo com as árvores. Quando testamos em humanos, o efeito foi diferente. Pois bem, humanos tem inteligência, é o que nos diferente de todos os outros seres vivos.
— Então assim nasceram os zumbis? — Questionei.
— Sim. Ao colocar o VIDA em um corpo morto, ele foi ativo quase que instantaneamente. E um novo ser nasceu, os parasitas que chamamos de UMANS. Os primeiro Umans eram pacíficos, pois estavam em corpos mortos. Quando um cérebro morre, perde conexão com todo o corpo. Ao ser reativo pelo VIDA, o cérebro não conseguia se conectar totalmente com todos os órgãos, então alguns ficavam paraplégicos, outros doentes, e alguns perdiam até mesmo a capacidade da fala, visão, entre outras coisas. No início quando eles acordaram com personalidades diferentes e atitudes não habituais da pessoa morta, imaginamos que era por perda de memória, já que o cérebro havia sido desligado. Mas não, o corpo era apenas uma marionete para outra mente usar. Avançamos nos estudos, até o primeiro acidente Uman ocorrer. O ataque de um durante um processo cirúrgico.
— Uma das cobaias espalhou a doença pra um corpo já vivo... É isso? — Alice estava claramente muito empolgada.
— Exatamente. Um dos médicos foi mordido, mas escondeu esse fato pois tinha medo de se tornar uma cobaia de testes. Dias depois, tudo começou. O parasita dominou seu corpo, e a nova consciência tinha apenas uma primeira ordem "Se espalhem".
— O parasita queria dominar o planeta? — Ayato cruzou os braços enquanto perguntava.
— Não. A lei da natureza é simples, o mais forte vence, e o mais fraco morre. O Uman apesar de ser artificial, é uma forma de vida inteligente, e tinha noção de que se não superasse a raça rival, os humanos, iria virar cobaia de testes. Então, se espalhe e elimine a raça que pode destruir você. Essa é a lei da natureza. Assim os Umans agem. Eles se espalham pelo contato de saliva ou sangue, que é um modo de contágio mais direto e rápido, para que chegue ao cérebro. Existem estágios de contato. O primeiro é dominar o corpo, para continuar a primeira ordem que é a proliferação. Uma pessoa mordida vai apenas continuar mordendo tudo que for geneticamente igual a si, para espalhar o parasita e impedir que essa raça inimiga a destrua. Ou seja, os Umans no seu planeta vão continuar esse processo até todos os humanos existentes serem contaminados. O segundo estágio é o domínio cerebral, onde o parasita consegue ter controle dos reflexos e habilidades do indivíduo. Não é apenas correr e morder, mas sim usar as suas aptidões físicas gravadas na memoria mais presentes para continuar o processo de proliferação. Então vão encontrar Umans que correm rápido, pulam, nadam e até mesmo lutam. Até o terceiro e último estágio, o domínio total. Esses são os mais perigosos.
— Por que? Não se tornam conscientes? Devem conseguir dialogar... — Lucas questionou meio receoso.
— Esse é o problema garoto. Vocês não conseguem diferenciar um Uman normal de um no terceiro estágio. Se for um conhecido, tudo bem, vai notar sua mentalidade e hábitos diferentes. Mas e se for alguém que nunca viu? Como vai diferenciar? Como perceber que ele se infiltrou no seu grupo?
Aquelas palavras foram horríveis pra ocasião. De imediato todos se entreolharam, analisando seus corpos e julgando uns aos outros sobre suas suspeitas.
— Não adianta, a menos que o Uman se revele vocês não tem tecnologia pra diferenciar. O perigo está nisso. Ele vai se infiltrar entre vocês, e irá destruir o seu grupo, até matar todos. Porque é isso que ele faz, destrói as raças diferentes para não ser eliminado.
— Matar? Não é contaminar? — Tina questionou confusa.
— Não... No terceiro estágio, eles não seguem mais a ordem padrão de seu "nascimento". Ele vai matar vocês, sem a menor piedade.
— Então como o seu planeta os venceu? Foi com a cura? — Tina indagou.
— A verdade é que não existe cura garota. Depois que o parasita se infiltra na consciência, tentar separa-lo do cérebro é fatal, ambos morrem de imediato. Então a única opção é matar todos, pois ao chegar no terceiro estágio eles evoluem fisicamente. Imagine que são a versão melhorada dos humanos. Se tornam mais rápidos, mais fortes, mais ágeis e inteligentes. É como se fossem super humanos.
Naquele exato momento, senti toda a força e determinação de Tina e Ayato ruírem. Seus olhos perderam o brilho, e apesar de tentarem se manter fortes, dava pra ver que queriam apenas chorar. Tina se virou levemente, e começou a analisar a paisagem do lado de fora, enquanto Ayato abaixou a cabeça mirando o solo. Estavam despedaçados.
— Você os engrandece tanto, como conseguiram mata-los? Sua tecnologia deve conseguir fazer algo... — Alice deu sequência, tentam fazer com que ninguém notasse o desapontamento dos irmãos.
— Tecnologia só serve pra os identificar, já que eles facilmente poderiam criar seus próprios armamentos também. Mas vencemos ele por um simples e fácil fator.
— E qual foi? — Lucas cerrou os punhos levemente determinado.
— Nós também somos super humanos... De uma forma diferente. — Edmus sorriu erguendo a ponta do dedo para o alto.
No mesmo instante uma luz amarela se fez, ao ponto de condensar e fogo surgir no ar. Uma pequena bola de fogo, do tamanho de uma bola de tênis, estava flutuando sobre o dedo indicador do humano alienígena.
Todos na nave ficaram surpresos, ao ponto de Lucas dar um grito confuso e alegre. Admito que até mesmo eu estava impressionado com isso.
— ISSO É MUITO FODA!! C-COMO VOCE FAZ ISSO? EU POSSO FAZER TAMBEM? — Lucas se levantou empolgado, se aproximando de Edmus para admirar de perto a bola de fogo.
Antes que o mesmo pudesse tocar com seus dedos, Edmus fechou a mão fazendo a mesma sumir em fumaça até não restar nada.
— Isso? Isso não, afinal o fogo é o meu super poder. Mas bem, todos os humanos do meu planeta podem fazer isso. Vocês, eu ainda estou em dúvida.
—Espera, nós podemos ter poderes??? Como??? — Lucas sorriu ansioso, seus olhos brilhavam.
— Eu não sei, ainda estou estudando sobre isso. Nunca pensei em dar poderes ao seu povo. — Edmus sorriu, enquanto voltava a cadeira a posição natural lentamente.
—Espere. Você ainda não nos disse quem está atrás de mim. Porque o seu povo quer me levar?
O silêncio voltou a se fazer presente. Enquanto Edmus apertava os olhos e parecia repensar se deveria dizer.
— Musskyn, esse é um assunto que eu gostaria de ter em particular com você, e apenas você.
O elfo foi direto, enquanto me encarava sem dar a mínima a todos ao nosso redor.
— Não, não funciona assim. Pode ocorrer qualquer coisa no caminho, e sequer sabemos pra onde iremos. Eu quero entender logo isso.
Reafirmei o meu ponto. Nada que fosse dito ali seria sigiloso demais, até porque alguém ali por acaso poderia vencer Edmus em um combate?
— Você tem certeza disso garoto? Pode ser traído por qualquer um aqui, e eu talvez não consiga te proteger sozinho.
Por alguns instantes fiquei em silêncio, analisando um a um do meu lado. Sua fala me dava um preço bem alto, ao ponto de ser palpável a ideia de me traírem.
— Não importa mais. Estamos em um apocalipse. Eu posso morrer de várias formas diferentes. — Juntei as costas a parede. Enquanto suspirava forte e levava as mãos aos bolsos.
— Não Musskyn. Não vão matar você. Mas tudo bem, irei contar.
Edmus se levantou da cadeira, apertando um botão em sua pulseira com uma bola de gude em cima. A frente da nave ao qual víamos a paisagem lá fora se fechou, deixando tudo em seus interior escuro.
Antes que qualquer dúvida soasse uma luz se fez no teto, e um projetor néon da cor azul se fez no centro da nave, redondo e desenhado no formato de um planeta flutuando no vazio, A terra.
Logo outros pontos foram feitos de luzes de cor diferente, como o sol e o sistema dólar. Fiquei em dúvida de onde estava vindo essa luz.
— Esse é o sistema solar de vocês. Ele se encontra em uma das caldas da nossa galáxia, vocês chamam de Via Láctea. — Levando as mãos até a terra, ele minimizou como se estivesse retirando o zoom até mostrar toda a galáxia de fora. Logo o mesmo a arremessou como se fosse uma bolinha de papel, e o projetor correu pra outro lado da galáxia, enquanto ele dava zoom novamente em outro sistema solar. — E esse... É o meu sistema solar.
Um sistema solar se mostrou, com um sol quase três vezes maior que o da terra na projeção. Existiam 15 planetas ali, e pelas cores dava pra notar que seguiam alguns padrões. Levando as mãos até o 8° a partir do sol, Edmus deu zoom ao ponto de podermos olhar pro planeta como se estivéssemos fora dele. Era semelhante a terra em colocação, lotado de mares azuis e uma vastidão de verde que imaginei ser a parte seca de terra. Porém, existiam 4 luas ao seu redor.
— O seu planeta tem quatro luas??? — Alice brilhava feliz, estava se sentindo no paraíso e isso era notável.
— Somente uma. Esta... — Edmus apontou para uma de cor mais clara, lembrando a lua que tínhamos na terra.
— O que são os outros três? — Indaguei confuso.
— São estações militares. Cada uma com uma função específica. Elas precisam ser redondas como uma lua, e devem acompanhar exatamente o mesmo movimento que a natural. Vocês ainda não têm conhecimento disso mas, o tamanho de um objeto pode interferir na gravidade ao redor. Digamos que o tecido da realidade é... bem, é perigoso se você desequilibrar ele. Então nossas estações são cópias da lua, planejadas ao ponto de não interferir na iluminação solar do planeta, na gravidade, emissão de radiação e muitos outros fatores científicos que vocês não têm ideia.
— Isso... Isso... caralho é muito maneiro! — Brenda estava surpresa e impressionada tanto quanto Alice, o que me deixou surpreso também.
— Bem. Este é meu planeta. Alpha One. Alpha One é governado por um rei. Uma monarquia absolutista, ao qual abaixo do rei existem 3 famílias reais, e abaixo das famílias reais 7 Generais. O planeta é dividido em 7 distritos, cada um administrado por um general com uma função política bem elaborada, e todos funcionam para o equilíbrio do planeta e claro, o avanço da nossa sociedade.
— Certo, vocês me parecem muito bem pra ter que atravessar a galáxia atrás de um fudido como eu... — Arqueei a sobrancelha ainda confuso com o fato de eu ser tão importante.
— Vocês terráqueos tem o péssimo hábito de atrapalhar os outros. Deveriam melhorar nisso sabia?
— blá-blá-blá... Corta o papo furado e desenrola Edmus. — Balancei a cabeça de forma irônica.
— A cada 100 anos Alphanianos, por lei marcial o nosso rei deve ser trocado. Basicamente, as três famílias reais disputam quem será o próximo rei, cada família envia um representante para competir pelo trono. Os príncipes disputam em varias provas diferentes, demonstrando ao povo suas capacidades de administrar o planeta mais evoluído da galáxia. E bem, após toda a demonstração, o conselho escolhe quem será o novo rei pelos próximos cem anos.
— Você está dizendo que...
— Sim. O sobrenome Musskyn não provém da terra. É o nome de uma das três famílias reais de Alpha One. Você Edward Musskyn, é um bastardo da família real. – Edmus parecia meio irritado em relembrar o nome dos Musskyn. Parecia algo pessoal.
O silêncio se fez novamente na nave, ao ponto de até mesmo Ayato analisar meu semblante. Não o julgo por isso, visto que até mesmo eu estava procurando em mim algo que me levasse a ser um príncipe de uma família tão importante.
— Mas... porque me querem?? — Respondi ansioso, talvez até de forma desesperada
— Você não entende. Meu planeta já não é o mesmo. Estamos em um colapso político, nosso rei atual é meio... Não, ele é totalmente idiota. Eu sinceramente não sei como aquele imbecil se tornou rei. A questão Musskyn. É que apesar de você ser um bastardo, por ter o mesmo sangue da família real, você pode participar da disputa real, se for apto, claro. — Edmus me olhou de forma a entender que estava duvidando totalmente de minhas capacidades pra isso.
— Mas eu não quero ser rei, porque iriam querer me levar mesmo assim? Estão sem príncipes? — Questionei ainda sem entender o ponto de tudo aquilo.
— Uma regra absoluta em meu planeta, é que apenas um membro da família real pode se tornar rei. Mas, existem milhões de pessoas querendo acender ao trono, ou ganhar influência com ele. Como eu disse, existem 7 generais em meu planeta. Particularmente todos eles tem apelidos bem específicos, aqui vocês chamam de pecados capitais... Luxuria, a general do 7° distrito, quer tomar o trono, e quer liderar nosso planeta. Mas é impossível para ela, já que não possui o sangue real. Então ela está a alguns anos buscando um bastardo que possa controlar, e colocando ele no trono, ser a pessoa por trás do poder manipulando o rei. E bem, você é o primeiro bastardo que o exército dela encontrou.
Era muita informação para processar em pouco tempo. Minha cabeça estava distante, eu não estava captando todos os pontos necessários pra ter uma conclusão absoluta do todo.
— Mas, se ela é um general e pode manipular assim, porque precisa dele? Se a família real é tão ruim, ela não pode pegar um do próprio planeta? — Tina indagou me encarando, o que me deixou levemente feliz, por notar que ela não estava mais tão desligada do assunto.
Meus olhos foram até Ayato, felizes em notar que ele também parecia mais tranquilo após um tempo pensativo.
— Existe um motivo pra família real ser a família real. Como vocês viram, todos em meu planeta possuem um tipo de poder. Alguns manipulam objetos, outros o corpo, outros forças da natureza... enfim, tudo varia muito. Mas as famílias reais... eles tem um poder diferente, um poder absoluto. — Edmus abriu as mãos, fazendo o nosso tão fofo slide 3D sumir e a luz do teto acender novamente.
— Que tipo de poderes...? Eu também tenho? — Questionei levemente empolgado. Se eu era um bastardo, talvez também tivesse um poder.
— Ah, sim, eu já notei que você tem, Musskyn. Mas ainda não dominou ele, e muito menos o sabe usar.
— E qual o meu poder, Edmus? — Me levantei caminhando até ele.
— Isso, você só saberá quando estivermos firmes e seguros em terra. Porque é algo que eu irei falar somente com você, não importa o quão insistente seja. — Edmus caminhou até sua poltrona, voltando a ligar a nave.
Minha mente perdeu um pouco do foco, enquanto repensava tudo aquilo. Eu era um bastardo de uma família importante e tinha super poderes. Estava ansioso pra saber o que seria. Eu poderia voar? Soltar chamas também? Ou talvez criar armas do absoluto nada? As opções me deixavam levemente empolgado.
— Para onde vamos? — Ayato voltou a dar a graça de sua voz.
— Eu não sei, não conheço totalmente esse território. E de preferência não quero ir muito longe, pois a nave está ficando sem combustível. Precisa ficar inativa pra recarregar. — Edmus levou a mão ao queixo pensativo.
— Vamos para os hotéis da minha família. Eu conheço tudo por lá. Teremos comida, conforto e segurança mínima pra conseguir descansar enquanto a nave volta a ativa. — Me aproximei da tela, tentando analisar o solo e relembrar o caminho.
— E você sabe chegar lá? — Ayato observou meu rosto, meio preocupado em se perder.
— Sinceramente? Eu sei que fica próximo a um estádio... Faz alguns meses que não venho aqui...
— Ué, você vem de onde Ed? — Lucas questionou curioso.
— Ele é inglês... — Ayato sorriu de canto com um tom irônico.
— O que??? Mas como? A voz dele, o sotaque... — Brenda demonstrou surpresa.
— Pelo que parece, ele cresceu entre brasileiros. Então fala bem a língua. Eu também não acreditei. — Ayato finalizou me encarando com um sorriso.
— Vamos logo, ficar parados assim gasta combustível. Precisamos ir embora. Eu ainda preciso te ensinar muita coisa Edward, estamos correndo perigo.
— Como assim? Eles podem nos achar aqui? — Questionei o elfo, confuso, parecíamos bem agora.
— Eles vão nos achar, é inevitável. O que está impedindo tudo é esse artefato... — Edmus levantou a pulseira com a bolinha de gude em cima.
— O que é isso? — Alice se aproximou analisando o aparelho.
— É um interferidor. Ele bagunça a gravidade ao redor da nave, impedindo que sejamos localizados por qualquer radar das naves inimigas. Mas está quebrado, e não irá durar muito. — Edmus analisou o aparelho, voltando a esconde-lo por baixo da manga.
— Quanto tempo temos? — Perguntei.
Edmus encarou o céu, analisando o sol começar a divagar em direção ao repouso. Logo seria noite, e o fim do primeiro dia.
— Talvez dois dias terráqueos. Eu preciso ensinar a usar seus poderes, para que consigamos sobreviver a isso.
— Como assim? Você quer lutar? Não íamos fugir?
— Para onde quer fugir? Só não fomos achados porque quem está atrás de nós não é a General. Mas ela será avisada e virá pessoalmente. Quando ela chegar, se você não souber usar seus poderes, pode esquecer esse planeta garoto. Vai parecer que ele sequer existiu.
— Por que ela tem que destruir o planeta? — Brenda questionou o que todos queriam.
— Ela quer usurpar o trono. Acha que se souberem o que ela está fazendo, vão deixar ela livre? Ela vai apagar vocês da existência, para que não aja a menor chance de descobrirem. Pois estão rastreando os passos dela, por onde ela vai. Então ela simplesmente apaga os planetas do mapa. — Edmus parecia irritado ao relembrar isso.
Foi então que percebi, ele também havia perdido algo, e aquilo tão pessoal se tratava de vingança, mas contra quem exatamente?
— Então vamos embora. Temos pouco tempo.
Respondi determinado. Ayato se levantou e começou a explicar o caminho para Edmus, enquanto eu caminhava até o fim da nave, encarando o chão e repensando tudo aquilo.
Foram tantos traumas, perdas e derrotas. E agora parecia que eu estava apenas começando a jogar. Minhas mãos tremiam, meu corpo estava tenso e cansado. Cheguei ao Brasil me perguntando quão chato seria o dia analisando o hotel. Agora estava dentro de uma nave alienígena, indo para o mesmo hotel.
Mas dessa vez, para treinar antes de enfrentar uma general maluca de um planeta alienígena. Tudo isso em apenas um dia de apocalipse. Estava meio receoso do que o segundo dia me proporcionaria.