Capítulo 3

capa Fios
capa Fios

- Essa sua fazenda... - Willian olha em volta.

- O que tem ela? - Coço a testa.

- É só que eu consigo ver muito potencial nela. - Ele parece perdido em seus pensamentos.

Olho em volta, mas a única coisa que consigo ver é um amontoado de mato.

- Apenas pense nas possibilidades. - Me olha com um sorriso.

Caminhamos um pouco mais, passando por algumas outras fazendas. Todas são muito parecidas, mas diferente da minha, o terreno são muito maiores.

Outra coisa que chamou minha atenção foi um vinhedo que fica ao lado da fazenda de Willian, quem sabe eu passe ali qualquer dia.

Pouco tempo depois, chegamos em sua propriedade.

Não consigo mensurar o tamanho do lote, ele soube aproveitar bem o espaço.

Sua casa também é muito bonita. As paredes de madeira são pintadas de amarelo e o telhado é preto. Assim como a minha, também há uma varanda com uma cadeira de balanço.

- Bem vindo a minha humilde casa. - Aponta para a construção a frente.

- Caramba. - Não consigo conter minha surpresa.

Ele sorri. Acho que esperava por isso.

A sala é bem espaçosa, com um sofá azul de três lugares, uma poltrona e uma pequena mesa com um rádio. Além disso também vejo uma lareira com alguns quadros próximos a ela. Ver tudo isso me faz questionar como deve ser o restante dos cômodos.

- Querida, estou de volta. - Avisa ao entrarmos na cozinha.

Lembra a que tem em minha cabana. Fogão a lenha, alguns armários e uma geladeira. Bem simples até, mas com certeza bem aconchegante.

- Oh, querido. Você realmente o trouxe. - Diz sua esposa. Seu tom é de surpresa, apesar de quê pela sua fala, acho que já esperava por isso.

Ela está usando um vestido branco. Além de um pano florido que cobre parte de seus cabelos pretos.

- David, esta é minha esposa Ester. E essas são Rita e Maria, minhas filhas. - Diz apontando para a mulher e duas garotinhas.

- Oi tio. - Cumprimenta a mais nova, Rita se não me engano.

- Oi, vocês são umas gracinhas. - Afago suas cabeças.

Sou respondido com dois sorrisos banguelas.

- David, aproveitando que está aqui, por que não fica para o almoço? - Pergunta Ester.

Sou pego de surpresa pela proposta. Imediatamente olho para Willian que sorri em resposta.

- Por favor, eu insisto. - Ele se senta.

Coço a cabeça enquanto os quatro me encaram.

- Bom, eu vou aceitar então. - Não consigo esconder minha vergonha, mas acho que eles nem percebem.

Ester sorri e vai até o fogão. Pouco tempo depois volta com algumas panelas. Ela as coloca na mesa e retira as tampas. A fumaça sobe junto com o aroma de comida caseira.

- Por favor David, coma sem cerimônia. - Diz Ester.

Só então percebo que ainda estou de pé, o que faz meu rosto queimar. Me sento rapidamente e olho para uma das panelas.

- Então, está gostando daqui? Digo, do interior. - Pergunta William enquanto se serve.

- Bom, não conheci a cidade ainda, mas achei bem agradável. O clima é confortável e as pessoas são muito receptivas. Sinto que terei uma vida tranquila aqui. - Essa última parte me faz lembrar do quanto eu sonhei com um pouco de paz quando vivia na cidade.

- E o que você fazia antes de vir para cá? - Indaga Ester.

Eu a olho por alguns segundos.

- Eu era gestor de uma companhia. Meu trabalho era garantir que a empresa gerasse lucro. - Respondo.

Por dentro eu poderia estar rindo de mim mesmo. É um pouco hipócrita me gabar disso depois do vexame que passei no meu último dia de trabalho.

- Talvez você seja a pessoa de quê precisávamos. - Comenta Willian.

- Willian... - Adverte Ester.

- Fique calma querida, eu falo sério. - Se defende.

Ester suspira e sai.

- E então? - Por algum motivo isso atiçou minha curiosidade.

- Cá entre nós David, o comércio local não é um dos melhores. Preços altos demais, nenhuma concorrência. - Ele me olha.

- A solução não seria vender produtos para fora da cidade? - Parece óbvio para mim.

- Você está certo, mas nem todos pensam assim. Ou pelo menos têm preguiça de pensar. Dinkley, o dono do mercado acaba por convencê-los de que vender para ele é mais lucrativo. - Ele dá de ombros.

Ester volta e coloca duas taças com pudim para nós.

- Mas não me entenda errado, não estou colocando pressão sob suas costas. Você só precisa saber com o que pode acabar lidando aqui. - Diz comendo um pouco do doce.

- Tudo bem, mas onde você quer chegar com isso? - Indago.

De certa forma isso me deixou um pouco empolgado, mas não vou deixar evidente a ele.

- Por favor, me acompanhe. - Diz se levantando.

Faço o mesmo e me viro para Ester.

- Muito obrigado pelo almoço, estava muito bom.

Ela sorri e eu vou em direção a Willian que foi até o quintal.

- Então David, dê uma olhada nisso. - Aponta para uma plantação.

- Café? - Pergunto como se fosse a pergunta mais absurda do mundo.

- Exato! Mas enquanto você vê apenas grãos de café, eu vejo uma rara oportunidade.

- O que tem em mente. - Pergunto impaciente.

- Indo direto ao ponto, quero montar um comércio e gostaria que fosse meu sócio. - Ele olha para mim, talvez esperando alguma reação

Willian é rápido. Acabamos de nos conhecer, no entanto ele soube muito bem manipular a conversa para chegarmos aqui. Daria um ótimo empreendedor.

Dou uma risada sarcástica.

- Você é um cara esperto, Willian. Tudo bem, eu vou jogar o seu jogo. - Digo estendendo a mão.

Ele a aperta com um sorriso vitorioso.

- Mas não se preocupe, ainda é apenas uma ideia. Por enquanto aproveite os prazeres que somente o interior pode lhe proporcionar. - Estende a mão para frente.

Acabei ficando o restante da tarde ali. Willian me mostrou o um pouco mais de sua fazenda.

Ele possui uma grande criação de animais. Porcos, vacas e galinhas são só alguns deles.

Comemos bolo de laranja e tomamos café. Acabei me lembrando um pouco mais de minha infância. E agradeço por isso.

Quando dei por mim, já estava escuro. Me despeço deles e vou para casa.

Esse tipo de hospitalidade pode assustar alguém que vive na cidade e não é acostumado com isso, mas com o tempo acredito que as coisas se tornem mais naturais.

Assim que chego em casa, noto que há uma pessoa batendo em minha porta. Ela segura um pequeno lampião.

Me aproximo um pouco mais e descubro quem é. A neta do prefeito, qual é o nome dela mesmo? Ah sim.

- Sophie? - Chamo.

Acho que a assustei, pois ela se vira rapidamente para mim.

- Senhor Jones, achei que estivesse em casa. - Diz baixinho, quase inaudível.

- Por favor, me chame de David.

Ela acena a cabeça concordando.

- Então, precisa de alguma coisa? - Me aproximo, tentando vê-la melhor.

Lembro-me de quando nos conhecemos. Não cheguei a reparar em como ela é. Agora, apesar da fraca luz vinda do lampião, consigo ver sua aparência.

Ela está usando uma camisa rosa, por baixo de um macacão jeans. Seus longos cabelos castanhos caem em cascata sob sua pele clara e corada. Seus olhos cor de mel realçados pela luz me encaram.

- Eu... é que... - Gagueja.

Parece difícil para ela dizer.

- O que tem você? - Pergunto.

Ela respira fundo.

- Eu gostaria de saber se você quer dar uma volta na cidade. - Diz rapidamente.

Parando pra pensar, ainda não visitei a cidade. Está escuro, mas acho que o passeio pode ser agradável.

- Tudo bem, vamos lá. - Digo com um sorriso.

Caminhamos em silêncio por alguns minutos, passando ao lado do ponto de ônibus e por fim chegando a cidade.

Confesso que fico um pouco surpreso. As casas são muito bonitas e as ruas estão longe de serem mal desenvolvidas. O prefeito fez um bom trabalho.

Olho para Sophie, ela ainda está calada. Mas parece querer dizer algo. Talvez eu devesse puxar assunto.

- Então, você vive aqui desde que nasceu? - Parece ser uma pergunta casual, mas estou realmente curioso sobre.

Ela olha para mim um pouco confusa, mas logo compreende. Consigo vê-la ainda melhor agora com as luzes dos postes.

- Sim, nunca sai desta cidade por causa do...

Ela pausa.

- Deixa para lá.

Eu a encaro. Ela parece distante.

- Bom, pelo menos você conhece muitos lugares aqui, não é? - Tento amenizar a tensão que aos poucos está se criando.

- Sim, tem o lago, a biblioteca, você também pode ir no bosque e...

Ela me olha e suas bochechas ficam coradas.

- Tá tudo bem, continue. - Digo com um sorriso.

Seu entusiasmo é realmente contagiante.